“Comparado com outros centros de pesquisa da América Latina, São Paulo tem uma escassa produção de estudos sobre os assim chamados “problemas” urbanos. Não só escassa como também, salvo algumas exceções, os trabalhos realizados ou são monotonamente descritivos ou se situam ao nível das leis gerais do processo de acumulação e de seus reflexos sobre a expansão das cidades.

Isso tem sua importância mas também seus limites. Assim, por exemplo, associar a auto-construção de moradias com a problemática do custo de reprodução da força de trabalho no quadro de um capitalismo selvagem que caracterizou a sociedade brasileira recente, foi um passo essencial. MAs faltava – e falta ainda – especificar este processo geral a partir de análises que permitissem avançar no aprofundamento deste questão que une a (super) exploração do trabalho àquilo que tem sido denominado de “espoliação urbana”.

Neste sentido o presente estudo representa um passo adiante. Munidos de um instrumental teórico adequado, os autores foram à periferia (sem o qual de pouco adianta ir) e a partir de uma pesquisa em profundidade realizada em 5 loteamentos de baixa renda lançaram-se no esforço de destrinchar alguns aspectos do cotidiano das classes trabalhadoras, procurando, ao mesmo tempo, sentir e pensar o sentido e o significado deste cotidiano. Retomam a questão da produção do espaço urbano, da dilapidação da mão-de-obra, da valorização da terra e da expulsão daqueles que não conseguem arcar com o “preço do progresso”, retomam a própria noção de “periferia”, tão usada e abusada, vaga e ambígua, relacionando-a com a temática da renda da terra.

O presente estudo é, antes de tudo, uma discussão sobre estes temas com base nos elementos empíricos levantados através de questionários padronizados, entrevistas e observações.

Não é um trabalho acabado. Nele, sobretudo, há pistas, aberturas e questionamentos. Constitui a primeira versão de uma pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) à título de “iniciação científica” que, após o mergulho empírico, teve que tomar a forma escrita. Neste ponto sempre haverá quem considere certas partes menos desenvolvidas e que em alguns momentos houve hesitações ou mesmo deslizes. Mas esta faz parte do trabalho intelectual e afinal estamos todos aprendendo. (KOWARICK apud BONDUKI & ROLNIK, 1979)

BONDUKI, Nabil; ROLNIK, Raquel. Periferias: ocupação do espaço e reprodução da força de trabalho. 1. ed. São Paulo: Programa de Estudos em Demografia e Urbanização (PRODEUR), 1979. 130 p.


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